ESIG é destaque em matéria sobre aniversário do Parque Tecnológico Metrópole Digital
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Conhecida como noiva do sol e vocacionada para o Turismo, Natal quer se tornar polo de outro mercado: o da Tecnologia da Informação (TI). Os primeiros passos foram dados há dois anos, com a criação do Parque Tecnológico Metrópole Digital, em agosto de 2017. Desde então, a iniciativa atraiu 46 empresas da área, que englobam aproximadamente 740 empregos. Para os vários envolvidos, os resultados ainda são pequenos, porém chegaram muito antes do previsto.
“A gente fez um estudo que evidenciou que os parques que têm na faixa de 30 a 60 empresas são parques com pelo menos seis anos de maturidade. É um número espetacular. Mesmo alguns que hoje são conhecidos mundialmente no segundo ano estavam tateando com cinco ou seis empresas”, comemora o professor Anderson Cruz, diretor do Parque Metrópole Digital.
A iniciativa foi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através do Instituto Metrópole Digital (IMD), junto com a prefeitura da capital potiguar, além do próprio setor privado. Ela compreende uma área geográfica com raio de dois quilômetros ao redor do campus e abrange partes de cinco bairros da cidade, onde as empresas que queiram participar devem estar instaladas.
As empresas sediadas nessa região e credenciadas ao parque podem ter acesso a benefícios fiscais, com redução de até 75% no IPTU, de 30% no ITIV, 60% no ICMS, isenção da taxa de licença de localização e redução para 2% no ISS. Os incentivos são previstos em lei municipal aprovada em julho de 2017, sancionada após um trabalho do IMD junto com o Executivo e a Câmara de Vereadores da capital potiguar.
Além disso, as organizações podem usufruir de serviços de capacitação e de infraestrutura, inclusive com acesso às estruturas físicas e tecnológicas do Metrópole Digital, como o centro de processamento de dados (datacenter). O instituto também colabora com a formação de pessoas para trabalhar no setor. São cursos que vão do nível técnico, passando pela graduação e especializações, até o doutorado. Toda a estrutura abriga 3.500 estudantes. Vantagem também para eles, que têm maiores oportunidades.
Entre as empresas ligadas ao projeto, existem aquelas que foram incubadas no próprio Metrópole Digital, as que já passaram pelo processo de incubação e foram “graduadas”, bem como outras novas, que abriram após a iniciativa e decidiram se instalar dentro da área. Também há empresas mais antigas, que já estavam dentro da área geográfica ou mudaram-se após a abertura do parque. Agora o parque também busca atrair investidores de fora do estado.
Segundo o diretor, o objetivo é criar um polo de TI em Natal, que gere “simbiose” entre os setores público, acadêmico e privado. Além de incentivar o setor tecnológico, ele defende que o impacto recai sobre a economia de modo geral, já que as soluções criadas na área costumam ser incorporadas tanto na indústria como no comércio. Outra vantagem é a manutenção dos talentos formados pela UFRN no estado, bem como a importação de outros.
“Acaba que as empresas lucram mais, geram mais renda, mais impostos para o setor público e empregos qualificados. A universidade ganha com novas fontes de recursos, com projetos, e a formação continuada dos seus talentos, já diminui a exportação que havia. Eles continuam aqui. Do total de empregos, 60% exigem pelo menos ensino técnico. É um jogo de ganha-ganha”, defende o diretor do instituto. Somente no ano passado, o parque atraiu investimentos de R$ 3 milhões em editais.
O foco é nas empresas de desenvolvimento de softwares, hardwares e capacitação de alta complexidade. Embora pareça um nicho limitado, os produtos desenvolvidos ao longo de dois anos, são os mais variados, segundo Anderson Cruz.
Há empresas que geram soluções de TI para gestão da educação pública e hospitais, outras de comunicação em fibra ótica, que criam infraestrutura e infovias para o desenvolvimento da cidade; educação em robótica; coleira para cachorros cegos; empresas que ajudam empresários a acharem seus clientes e outras que auxiliam o paciente na marcação de médico de forma online, sem fila. Enfim, uma variedade de soluções que não se limitam ao mercado local, mas já alcançam outros estados e até outros países.
Questionado se o objetivo seria criar um Vale do Silício brasileiro – em referência à região da Califórnia, nos Estados Unidos, onde estão reunidas algumas das principais empresas de tecnologia do mundo – o professor diz que sim, ressalvando as proporções.
“O Vale do Silício é o parque tecnológico urbano mais emblemático do mundo, a menina dos olhos de qualquer polo tecnológico. Em outras palavras é isso. Queremos ser um vale do silício potiguar, ou papa-jerimum”, diz.
Uma cidade que ofereça boas oportunidades de trabalho, boa moradia e oportunidades de lazer é a ideal para manter e atrair talentos na área de tecnologia, na concepção do diretor do parque tecnológico, Anderson Cruz.
Essa também é a ideia do empresário potiguar Gleydson Lima, CEO da empresa Esig Software e Consultoria, que se considera um “bairrista”. A empresa foi a primeira graduada da incubadora da universidade e hoje emprega quase 150 pessoas, em um prédio bem próximo ao IMD. Os cerca de 80 clientes, principalmente universidades, institutos públicos e secretarias de educação, estão espalhados em 22 estados brasileiros.
“Eu sou natalense e quero desenvolver aqui. Se qualquer cidadão tiver condição de ter um emprego qualificado igual ao de fora, prefere ficar aqui ou sair? A grande maioria prefere ficar junto da família, da sua história. O problema é esse termo: emprego qualificado. Como o mercado de tecnologia permite que você fique em um local e venda para fora, preste serviços remotos, é mais fácil criar empregos qualificados. Agora há alta demanda por mão de obra qualificada. Tem que ter um conhecimento razoável”, reforça, lembrando a importância da universidade nesse processo.
“Você tem casos interessantes como Florianópolis, que vivenciou durante 20 anos uma transformação econômica. Ela vivia do turismo e hoje em dia o PIB de tecnologia é quase o dobro do de turismo. Eles conseguiram dar a virada. O turismo é importante, mas não é uma indústria de valor agregado. Você depende do visitante, não exporta. Florianópolis mudou isso. Isso pode ser um caminho para o Rio Grande do Norte. Iniciativas têm surgido. Essa é a ideia do Metrópole Digital, mas é preciso ter o pé no chão”, pondera.
Embora a tecnologia seja muito associada aos novos empreendedores e as startups, até mesmo empresários mais experientes estão de olho no futuro que se abre. Entre os sócios da Inovanet, uma empresa que trabalha com linhas de fibra ópticas e é responsável pela construção e manutenção da infovia potiguar, que vai ligar Natal a João Câmara, há empreendedor com mais de 70 anos. A empresa é outra que se credenciou ao parque, se instalando no bairro de Capim Macio.
“Não existe idade quado você é uma pessoa que pensa fora da caixa, está antenado, buscando desenvolvimento”, afirma o diretor executivo da empresa, James Dhean Lima, de 44 anos, que ressalta a relação com a universidade na busca pela inovação. “Hoje ninguém faz nada sozinho. Por isso a gente precisa estar sempre em contato”, reforça.
“A gente chega a um momento que vê que as soluções que nós temos hoje não têm mais como se expandir. A experiência que você tem gera uma insatisfação, em busca de algo que seja disruptivo”, comenta outro sócio dele, o diretor de planejamento da empresa, Carlos Alexandre. Segundo ele, que trabalhou por mais de 25 anos no setor público, a empresa também quer desenvolver soluções para o poder público, que ele acredita ser o mais atrasado, quando o assunto é implementação de tecnologia no atendimento à população.
Só depois de morar 15 anos na França, Andressa Matias também resolveu desenvolver sua própria startup, que está em fase final de incubação na Inova Metrópole – a incubadora do instituto – já credenciada no parque. A equipe do Instituto Gepetta, que desenvolve vídeos animados para empresas principalmente da área de TI, é composta por 15 pessoas. 70% dos clientes são internacionais e em 4 anos, mais de 300 vídeos, cujos médios variam entre R$ 8 mil e R$ 9 mil, já foram produzidos.
Soluções criativas não faltam. Quem pensaria em criar uma plataforma que reuniria apenas fotografias de surfe para serem colocadas à venda? Victor Hugo Fernandes, CEO da Surfmapper, não apenas pensou como colocou a ideia em prática. A empresa é outra que já está no parque tecnológico, mesmo ainda estando incubada.
A plataforma reúne 5 milhões de fotos em 25 países, interligando 2,5 mil fotógrafos a 80 mil surfistas. Nos últimos três anos, foram vendidas mais de 60 mil fotos – uma movimentação de mais R$ 1 milhão. A equipe é formada por profissionais locais, além de outros que trabalham remotamente, até do Caribe. A empresa está em fase de captação de investimentos.
FONTE: G1 Globo